Reinildo Mandava é, provavelmente, o moçambicano na diáspora mais famoso. Denonimado de “campeão francês pelo Lille“ pelo jornal O País, o Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi louvou Reinildo pela conquista do título francês de futebol.
“Que esta vitória”, sublinhou o Presidente, “inspire outros atletas e todos nós a lutarmos sempre pelos nossos objectivos, mesmo quando parecem impossíveis de alcançar”. No artigo que se segue, O País traça o perfil de Reinildo.
O internacional moçambicano, Reinildo Mandava, é campeão da França ao serviço do Lille, depois de a sua equipa ter vencido o Angers por 1-2, na partida da última jornada do campeonato local. Esta foi a primeira conquista de Mandava e o quarto título do Lille
Estava tudo deixado para a última jornada. Lille e PSG lutavam pelo título francês e as expectativas dos moçambicanos residiam na equipa do lateral esquerdo Reinildo Mandava.
Jogando a titular, pela 29ª vez esta temporada, o internacional moçambicano viu a sua equipa vencer o Angers por 1-2 e nem a vitória do PSG, no terreno do Brestois, impediu que os festejos fossem para o LOSC Lille.
No final do encontro, a festa dominou os jogadores, a equipa técnica e todos os elementos do Lille, com Reinildo Mandava carregando a bandeira e o orgulho moçambicano às costas.
O jogador dos Mambas e do Lille, Reinildo Mandava, festeja em dose dupla, pois foi eleito o melhor lateral esquerdo da ligue 1, na temporada 2020/2021.
Na sua terceira época nos franceses do LOSC, o internacional moçambicano já disputou 60 partidas pelo Lille, das quais 3 na época 2018/2019, ainda por empréstimo do Belenenses SAD, 22 na temporada 2019/2020 e 35 na presente época, entre ligue 1, Copa da França e Liga Europa.
O jogador, de 27 anos de idade, nasceu na cidade da Beira, Sofala, em 1994, já vestiu as cores dos Mambas por 25 ocasiões e apontou dois golos.
O lateral moçambicano foi bastante determinante nesta caminhada do Lille até à conquista do título e ao longo da época venceu por três vezes o prémio de melhor lateral do mês e, por diversas vezes, foi o melhor jogador do Lille e do jogo.
Em termos individuais, também foram determinantes o guarda-redes Mike Maignan, único totalista da equipa (3.420 minutos), o central holandês Sven Botman, o médio Benjamin André ou o avançado Jonathan Bamba.
No que respeita aos golos, o “departamento” em que o Lille ficou muito longe do Paris, Saint-Germain (64 contra 86) liderou o turco Burak Yilmaz, com 16, em 27 jogos, contra 13 do canadiano Jonathan David e sete do seu compatriota Yusuf Yazici.
A formação do norte de França, bem mais perto de Bruxelas do que de Paris, pautou o seu trajecto por ter predominado nos confrontos diretos com os outros candidatos (PSG, Mónaco e Lyon) e pelo escasso número de derrotas (três).
Rei Mandava na França
Reinildo chegou aos seniores do Ferroviário da Beira aos 18 anos, em 2012, tendo, no ano seguinte, celebrado o vice-campeonato. Era o seu segundo ano nos seniores dos “locomotivas” do Chiveve e Reinildo já mandava, tendo ajudado o seu clube de formação e de coração a terminar o Moçambola 2013, na segunda posição.
No mesmo ano, conquistou a sua primeira Taça de Moçambique pelo clube, ao bater o Chibuto na final por 2-0.
Entretanto, foi no Bebec, concretamente na Ponta-Gêa, o seu bairro, onde tudo começou. Reinildo entra no Ferroviário da Beira em 2008 com apenas 13 anos junto dos jovens Dayo, Gildo Vilanculos e Amorim.
Pelo Ferroviário da Beira, representou o país nas Afrotaças. Na selecção, foi chamado, pela primeira vez, por Augusto Matine para os sub-20. O seu empenho chamou a atenção de João Chissano, então seleccionador nacional, tendo-se estreado nos Mambas em 2014.
De lá para cá, tem sido cliente assíduo dos Mambas. Reinildo foi sempre um jogador optimista e foi assim na antevisão da final da Taça de Moçambique em 2014.
Depois de longos anos no Ferroviário da Beira, representou, por uma época, a Liga Desportiva de Maputo, trampolim para rumar a Portugal em 2017, concretamente para o Benfica B. Em seguida, passou pelo Fafe, Covilhã, Belenenses onde se destacou e atiçou a cobiça do Lile. Transferido para a França, o internacional moçambicano teve de se empenhar para conquistar o seu lugar. Não durou muito para que saísse do banco e se transformasse num jogador indispensável no plantel.
Graças ao seu empenho, constou por várias vezes no 11 ideal da Ligue 1 e o jovem da Ponta-Gêa chamou atenção da imprensa desportiva francesa. Hoje, Reinildo é campeão e torna-se no primeiro moçambicano a atingir esse patamar numa das principais ligas do velho continente.
Reinildo não foi campeão por nenhum clube em Moçambique, mas entra na história por ser o primeiro moçambicano a vencer a Ligue 1. Mesmo para dizer que o título francês tem sabor a Chiveve, tem sabor a Moçambique e Moçambique esteve às costas e aos olhos do mundo.
Texto de Elísio Uamusse, publicado no diário moçambicano O País, de 25 de Maio de 2021